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A logística (cansativa) do nômade digital

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como a logística influencia a vida do nômade digital

Nas ideias primordiais entre as pessoas que se colocam na posição de nômade ou nômade digital, não se leva em conta que o principal glamour desse novo estilo de vida é também onde a energia é mais sugada. Locomover-se, muitas vezes quase constantemente, para qualquer tarefa que você precise desempenhar, profissional ou doméstica, torna-se cansativo.

Não vou discorrer sobre a parte em que a beleza e a sensação de liberdade prevalecem, não, pois acredito que essas são duas características fundamentais para quem se sente atraído por esse estilo de vida. Entretanto, posso citar alguns exemplos óbvios e outros nem tanto – como mudar de cidade e ter baixa conectividade na nova casa, ou precisar conhecer o novo bairro em busca de uma estrutura básica, além de abdicar de alguns serviços que para alguns nômades podem fazer falta em suas rotinas.

Por mais que aprendamos a curtir o processo, é inegável que se locomover é cansativo. A premissa do nômade, independentemente do fator digital, é movimentar-se, isso desde quando os europeus se cansaram de suas vidas monótonas e começaram a navegar pelos sete mares.

Viajar por longas jornadas é uma tarefa prazerosa para quem está no início dessa vida, mas que pode se tornar um martírio para quem já precisou ficar em cinco bloqueios em rodovias, esperar 15 horas entre um voo e outro; ou, para aqueles que já se meteram em uma longa viagem de ônibus, passar 25 horas entre o ponto A e o ponto B – no meu caso, de Cusco a Lima.

Não há como escapar disso, seja você um nômade digital que ganha R$ 3.000 ou R$ 300.000 – o dinheiro compra conforto e minimiza o cansaço, mas não o elimina. Posso dar um exemplo simples: um nômade com baixo orçamento levará 30 horas para viajar de São Paulo a Salvador de ônibus, enquanto aqueles com melhores condições farão esse trajeto em 3-4 horas de avião.

Mas não há como escapar de uma longa viagem de 30 horas entre o Brasil e a Tailândia ou a Austrália. Não estou considerando apenas a variável financeira, mas também a biológica do ser humano – é cansativo, mesmo que seja prazeroso.

Fusos horários também são logística

Quando a logística envolve diferentes fusos horários, o problema se multiplica. A reunião marcada para às 8 horas da manhã no Brasil será às 6 horas da manhã na Colômbia e no México, o que significa que as atividades que você fazia antes do trabalho entre as 6 e as 8 horas, se esse fosse o seu horário habitual, serão realizadas à tarde. Se você está em um lugar novo, enfrentará o desafio logístico de encontrar onde comer, lavanderias próximas, academias, além de lidar com o fuso horário – acordar 15 minutos antes da reunião das 6 horas e deixar as atividades pessoais para depois.

A logística também desencadeia outras barreiras que podem ser facilmente adaptadas. Além das mencionadas acima, podemos considerar o clima – caminhar longas distâncias na neve é desagradável, além de ser escorregadio e sujo quando começa a derreter. Hábitos culturais como a siesta devem ser considerados em seu planejamento. Países como Espanha e Itália fecham o comércio para a sesta depois do almoço – sorte se você encontrar um Carrefour express por perto.

Internet é o problema mais recorrente de um nômade digital e entra também na equação logística – qualquer empecilho e você vai precisar de um backup para voltar ao trabalho, que pode ser um café ou qualquer estabelecimento com boa conexão.

Conto-lhes uma coisa: precisei correr a uma pizzaria ao lado da casa onde morava em Buenos Aires para “roubar” o WiFi – tive uma reunião com o fundador da empresa em que trabalho, sim, era importante minha presença e não havia opção de não participar. Deixaram-me fazer a reunião em uma pequena mesa do estabelecimento e de quebra pedi uma belíssima limonada. Era muito cedo para comer pizza.

Conforto x imprevisibilidade

Os imprevistos de viagens e trabalho sempre acontecem e são imprevisíveis. Estive em ambas as situações: na estrada e no meu conforto habitual. Valorizo ambos porque em cada um consigo encontrar o que me falta naquele momento. Quando passo muito tempo na zona de conforto, sinto que nada evolui e é hora de ir embora. Quando estou viajando há algum tempo, pelo menos 6-9 meses, sinto que preciso reconectar com minhas raízes. É um ciclo sem fim.

Em casa, sinto falta da aventura, na estrada, sinto falta do cotidiano – comprar frutas na mesma mercearia, cortar o cabelo no mesmo salão, treinar no mesmo horário e na mesma academia, etc.

Um planejamento logístico malfeito vai acarretar em uma experiência exaustiva. Conheça o lugar para onde vai, saiba os melhores bairros – segurança e acessibilidade são fatores importantes, em minha opinião. A vida que você leva em seu ninho pode ser equivalente, mas nunca a mesma, em qualquer lugar do mundo.

Pessoas comem, se divertem, treinam e relaxam em diferentes países e cidades. Abra o Google e pergunte: qual o melhor bairro para morar na cidade “x”, como se locomover na cidade “y”, academias próximas no bairro “z”. As respostas existem, basta fazer as perguntas.

A logística não se limita apenas à movimentação. Garanto que se eu te perguntar sobre qualquer bairro da sua cidade, você vai saber me dizer se é rápido ou demorado para chegar; talvez saiba se é possível pegar um metrô ou ônibus, e quantas linhas são necessárias para fazer o trajeto. Se for de carro, não precisará de GPS porque conhece bem a cidade; se for de aplicativo, provavelmente conhece a melhor opção – nem sempre o Uber é a mais viável.

Lugar novo? HD novo.

Uma cidade desconhecida parece que um novo HD (hard disk), aquele peça onde é armazenado todos os dados de um PC, recomeça em nossas cabeças, e quanto mais experiência como nômade digital, mais rápido será o seu aprendizado. Esse tempo de maturação será levado em conta em relação ao seu tempo disponível e ao tamanho da cidade – coloco o fator curiosidade com grande importância na equação. Precisar reaprender a se locomover em uma cidade é encantador.

É necessário saber como funcionam as linhas de metrô, se houver uma, conhecer quais os melhores aplicativos de transporte da cidade – nem sempre o Uber é a melhor opção. Na Colômbia, por exemplo, o Didi é mais aceito.

É um trabalho minucioso de pesquisa, acertos e erros. O planejamento faz parte da logística. Mudar de cidade vai exigir quantidades altas de energia. A primeira vez nesse processo é extremamente cansativa, a segunda fica mais tranquila, depois da quinta em diante o processo é automático. Você terá uma fórmula gravada na cabeça do que procurar em cada novo lugar – restaurantes, transporte, coworking, academias, bancos, etc.

Domine a logística, mas antes sofra com ela. Com a experiência, conseguimos entender nossos limites quando estamos em processo de viagem. Há momentos em que tudo tende a dar errado até começar a funcionar bem, o fator logística será motivo para sua total tristeza on the road. Não há como separar esse detalhe e apenas viver com o lado belo desse estilo de vida. Se você não errar de linha no metrô ou ônibus pelo menos uma vez em cada cidade, conte-me sobre a sua fórmula, a minha está longe de ser perfeita.

Boa viagem.

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