Crônicas

O curioso caso de Agniroc

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História fictícia após minha reflexão do filme Coringa.


Nossa! Não gosto de filme de super-herói, o último que assisti foi Homem de Ferro 2, adoro a maneira em como o Robert Downey Jr. interpreta o excêntrico Tony Stark, porém, acabei de sair do cinema. Saí do cinema muito pensativo depois de assistir o novo filme do Coringa. Como já disse, filme de super-herói não me agrada, mas esse me manteve com os olhos vidrados por duas horas.

Saí angustiado pensando em como o filme e a realidade se parecem muito. O que se passa em Gotham City é o espelho do que convivemos no nosso dia a dia, quer você more em São Paulo, Nova York ou Shanghai, o ser humano está cada vez mais distante um do outro, mesmo vivendo juntos em aglomerados de milhões de pessoas. É possível que você more com milhares de pessoas no mesmo quarteirão e nunca tenha pensado nisso.

Ou você pensa que esses oito prédios ao redor da sua quadra mora quantas famílias? Ninguém sabe da existência de ninguém! Não vou comparar os indivíduos na maneira mais crua como Arthur Fleck se porta diante do sistema, ele foi apenas o estopim dos sentimentos das pessoas que vivem à margem da sociedade, enquanto poucos seres assistem de camarote a degradação dessa maioria. Assistir a uma peça de ópera não é para qualquer pessoa.

Senti empatia por ele em muitos momentos. Senti na pele o que é ser massacrado por pessoas no palco em minhas primeiras apresentações como ilusionista. Quando Arthur ri de uma maneira perversa no palco tentando se expor como comediante e, na verdade, quem estava fazendo papel de palhaço era ele mesmo, me veio à memória de alguns momentos em que pensei em desistir de ser ilusionista. Cresci em uma família com altos e baixos e queria desde muito criança distorcer a verdade e entreter as pessoas ao meu redor para que eles esquecessem aquela realidade problemática por cinco minutos.

Meus pais brigavam muito e em um momento da minha vida comecei a ver a figura paterna quatro vezes ao ano. Julgo que a palavra amor em casa foi se deteriorando, mesmo tentando ao máximo e sem perceber que eu queria mesmo era atenção. Comecei a aprender ilusionismo para manter minha família entretida e fora das discussões. Por 10 minutos eu conseguia isso. Nada mais.

Eu sabia que era bom com ilusionismo e na escola comecei a me apresentar no intervalo. Apanhei das outras crianças e as meninas riam de mim por tentar fazer algo que dava errado algumas vezes. Eu tinha 12 anos e não poderiam exigir que eu fizesse um elefante aparecer na sala de aula. Mesmo após todos os motivos que me fizeram parar, continuei com o ilusionismo e percebi que haviam crianças que gostavam daquilo. A primeira coisa que se passava na minha cabeça era “coitados, eles devem ter problemas em casa como eu, pelo menos por 10 minutos vão esquecer da realidade que tanto nos atormenta”.

Comecei a fazer apresentações para essas crianças que eu sempre via o semblante triste e que caminhavam pela escola como fantasmas. Será que eu era visto daquele jeito também? Provavelmente sim. Talvez nós, fantasmas, percebemos a movimentação e o sentimento um dos outros. De longe eu via que eles também eram ridicularizados por nossos colegas de escola. O que será da gente depois de sair desse lugar? Me assusta a ideia de parecer os meus e os pais dessas crianças quando a vida adulta chegar, mesmo não sabendo pelo que passam em casa.

Não via a hora de cair fora daquele lugar, que tinha como finalidade educar as crianças, mas que era uma fábrica de criar robôs endiabrados pela sociedade. Será que essas crianças más são as mesmas pessoas que estavam assistindo opera no filme do Coringa? Pensando agora, é possível que tenha uma galera da mesma espécie lá, o homo hipócritus.

A vida adulta me mostrou ainda mais que eu precisava fazer ilusionismo, mesmo tendo um curso de arquitetura em mãos. Sentia mais que mexer com os sentidos das pessoas e fazê-las acreditar em uma força maior era muito mais divertido. Causar ilusão é algo que me fascina, mas passei muita vergonha por onde passava. Pessoas me chamavam de farsa, riam nas minhas costas, mesmo dizendo que acreditavam no que eu estava fazendo.


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Assim como Thomas Hobbes disse uma vez, o homem é o lobo do homem, durante toda minha vida foi comprovado isso. Em casa, na escola, na universidade, no escritório de arquitetura, que trabalhei por 5 anos, e nos palcos underground que eu ia me apresentar como ilusionista. Uma vez jogaram uma garrafa de Jack Daniels na minha cabeça e como o ambiente estava totalmente escuro, apenas havia um holofote na minha apresentação, não pude ver a pessoa que fez isso. Algumas pessoas riram daquilo. Diante de 100 pessoas, apenas uma teve a coragem de me ajudar a sair dali, eu havia perdido o sentido de onde estava por causa da pancada.

Por quinze dias me mantive trancado dentro de casa, pensando nas piores coisas do mundo e assistindo filmes que só me jogavam para baixo. Entrei em uma crise humanitária igual a todos os palhaços que se rebelaram no filme do Coringa. Me senti o próprio Arthur Fleck por 5 minutos. Eu só queria, que seja por 10 minutos, distrair as pessoas das suas realidades medíocres.

Que mal faziam os palhaços, ilusionistas, mágicos, comediantes, escritores e pintores no mundo. Levar histórias, desaparecer com coisas, colocar sorriso no rosto das pessoas, dar vida a uma tela em branco, qual o motivo de pessoas como nós sermos motivo de piada. Quando eu errava no escritório de arquitetura, não perdiam a oportunidade de destruir minha autoestima com algumas palavras depravadas. Quando errava no palco o que não faltavam eram vaias, críticas e risadas duvidosas.

No décimo sexto dia trancado no meu apartamento, eu vi um documentário sobre a realidade de crianças com doenças terminais ao redor do mundo. Aquilo me matou por dentro. Eu daria minha vida para que um daqueles seres humanos pudessem aproveitar a vida, mas minha ilusão não me permitia tal coisa. O que minha arte ilusionista poderia fazer era deixar a realidade dessas crianças um pouco mais leve.

Poderia ter odiado a sociedade, que zomba do que amo fazer, mas não queria gastar energia nisso. Lembrei do rosto dos meus pais em como eles ficavam bem naqueles minutos que eu me apresentava quando criança, mesmo não sabendo nada de ilusionismo e fingindo esconder as moedas na cueca. Lembrei das crianças que ficavam bem quando eu me apresentava para eles na escola, aqueles poucos fantasmas que sabiam a existência da dor e da solidão, se transformavam por um instante.

Encontrei na minha cidade, que se parece com Gotham City, um hospital com crianças doentes e pedi para poder me apresentar a eles. Sentia a necessidade de dar um momento, onde a mágica é o centro da vida. Em um momento em que a realidade é posta de lado e apenas palmas, risadas e cara de espanto aparecem na sala. Nunca mais parei de ir nesse centro. O objetivo da minha vida não é fazer chocolate virar leite ou resolver cubos mágicos em dez segundos, minha missão é fazer as pessoas que estão tristes esquecer a realidade por dez minutos.

O Coringa e eu temos algumas coisas em comum em relação à sociedade, mas somos dois opostos nesse mesmo lugar. Resolvi focar minha paixão para mudar a realidade de algumas poucas pessoas, ele resolveu partir para algo mais radical. Quem está certo? Não importa, que bom que o filme continua sendo filme e ninguém tenha sido ferido até agora.

Além do meu nome ser Coringa ao contrário, nossas realidades são totalmente opostas. Que ele fique dentro das telas e eu fora dela. Acredito que a lição do filme foi dada para milhões de pessoas.

“As pessoas só gritam e berram umas com as outras e ninguém nunca é educado.” – Coringa

Vamos transformar essa frase em:

“As pessoas são educadas e não precisam berrar e gritar com as outras” – Agniroc


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A história oposta do Coringa
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