Crônicas

Imigração | contos do mochileiro #1

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— Comprei minha passagem para a Europa, só com o ticket de ida.

— Mano! Você tá maluco! A imigração vai te botar pressão na hora com milhares de perguntas.

— Não sei se é tão arriscado assim…me deseje boa sorte!


“Imigração…imigração…imigração…”. Não aguentava mais essa palavra na minha cabeça, em algum momento do meu dia ela sempre aparecia. Isso durante quase 1 mês. Mas cá estou, dentro de uma máquina gigante que, não sei como, sabe voar. Duração do voo: 9 horas. Nível de ansiedade: incalculável.

Será que é verdade o que falam sobre a imigração? O povo gosta de aumentar as histórias. Sempre tem alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que foi barrado na imigração. Parece enredo de filme de suspense, as histórias são as mais cabulosas que existem, e, raramente, não há final feliz.

Chegou um momento em que eu não falava mais que eu tinha comprado passagem só de ida. As pessoas me olhavam com uma cara de surpreso e me perguntavam sobre tudo. E se te expulsarem do país? Você está pensando em em ficar por lá? Porque está fazendo isso? Excesso de perguntas para uma coisa tão simples. Sim, eu vou voltar! Sim, se não quiserem que eu entre no país eu tenho um plano B, caso não funcione, eu volto para o Brasil. Simples assim.

Dentro do avião eu estava muito seguro sobre o que aconteceria na imigração. Tinha todos os planos na minha cabeça. Plano A, check! Plano B, check! Plano C, bolando. Não tinha como nada dar errado. O que eles poderiam fazer com um cara que só quer viajar por um período mais longo que o normal, mas que está dentro do prazo permitido para ficar na Europa? Pra mim, absolutamente nada. Para os outros? Um apocalipse.

Meu voo foi quase 100% a noite, sem muita turbulência, sem muito espaço entre as pernas e sem muito sossego em minha mente. Mas mesmo assim eu liguei um filme que tinha recém-lançado e tomei uma taça de vinho. Álcool não faz milagre, mas relaxa qualquer ser humano. Assisti o filme e dormi. Como? Não sei… talvez seja o vinho e o cansaço mental.


Acordei em algum momento da viagem e só observava a tela na minha frente que marcava a velocidade do avião e quantos quilômetros faltavam para chegar em Lisboa. Santo Cristo, como voava rápido. Para um leigo, voar a 14.000 metros de distância do solo a 600 km/h é algo surreal. O mais bizarro é que não parece.

Uma família na minha frente conversava com a aeromoça de forma muito tranquila. Parecia que eles viajavam de avião regularmente, de tão tranquilo que estavam. Quase perguntei para eles “gente, vocês têm passagem de volta?”. Não perguntei porque não queria ouvir um “sim”. Se há gente no mesmo barco que você, é muito mais fácil. Mas só de olhar a família Doriana conversar com a moça me relaxava. Às vezes o avião tremia e eles continuavam rindo, e eu ria também, mas de nervoso. Nessas horas minha mão suava mais do que tampa de marmita, como diria minha amada mãe.

Dormi de novo. Acordei com o piloto dizendo, “caros, passageiros, estamos a meia hora do nosso destino de pouso”. Acordei zonzo na verdade. Demorei uns segundos para perceber que estava voando. E logo lembrei da imigração. Ferrou! Tinha todos os papéis em mãos, meu seguro-viagem de 3 meses estava correto. Tirei até documentos que possivelmente não utilizarei, como carteira internacional de motorista e até carteira internacional de vacinação. Motivo para me barrarem? No way! Até aparei a barba e cortei o cabelo para não dar mais motivo para a imigração. Vai que o fiscal acordou na maior bad e com vontade de mandar alguém pra casa? Esse não seria eu.

Chegamos. Desci do avião e segui o fluxo. Eu não tinha ideia onde era a imigração. Eu peguei uma fila para passar por uns guichês. O cara pediu meu passaporte e entreguei. Ele folheou duas vezes, olhou pra mim e carimbou. Continuei andando e não via sinal da imigração. Olhei um senhor ao meu lado, que caminhava na mesma velocidade que eu e perguntei onde que era a imigração. Ele disse “meu jovem, você acabou de passar por ela”

Sorri e comemorei por dentro. Lembrei de todos os papéis que tinha. Tudo em vão… eu queria que eles tivessem perguntado ao menos quantos dias eu ficaria no Europa, mas nem isso eles tiveram a audácia de fazer. Sorte de principiante eu acho.


Meu bom e velho amigo me esperava na saída do aeroporto.

— Man, que bom que você comprou a passagem de saída da Europa, já estava ficando nervoso por você.

— Preciso contar a verdade, só falei que comprei pra você não criar coisa na cabeça. Coisa ruim atrai coisa ruim. Por isso tive que mentir nessa situação, foi bom tanto pra mim quanto para o ansioso que tu é.

— Você é louco… mas deixa quieto, agora que você entrou é só relaxar.

Pelo jeito a sorte me acompanha já fazem muitos dias. Esse monstro que atormentava minha cabeça era só lagartixa achando que era um dinossauro.


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