Crônicas

Crônica da consistência

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Recém feitos 53 anos, recebi um convite para participar de um talk show com uma das principais figuras do nosso país para um bate-papo sobre vida, carreira, família e mundo. Talvez você esteja esperando eu contar sobre como que ocorreu a minha participação no programa, mas isso é pauta para outra hora. O assunto girou na consistência.

O que mais me deixou intrigado não foram as perguntas pessoas que sempre recebo. As pessoas estão cansadas de saber que ainda não casei e sei muito bem como curtir a vida. Conseguir viver de livros é uma coisa rara e desfrutar bem disso é quase acreditar em papai noel.

O que me deixa de cabelo em pé é a falta de saber ouvir quando alguém diz alguma coisa importante. No meu caso eu sempre ouço que tive sorte na venda dos meus livros, já adianto que escrevi 20 desde quando comecei a escrever como profissão. Quando alguém vem com esse papo de sorte para cima de mim eu já fecho o olho no mesmo momento e respiro cinco vezes.

Não existe sorte quando se há consistência, meus caros espectadores. Aprendam isso, e coloquem o saber ouvir em segundo lugar. A consistência em escrever todos os dias, por 25 anos, é o motivo de metade dos livros que escrevi nestes últimos anos rendem-me ainda uma bolada de dinheiro todo o mês.

Basicamente escrevo um livro a cada um ano e meio, e essa arte é a minha profissão. Acredito que há inúmeros escritores melhores do que eu por aí, o qual já fui apresentado e entrei em boas discussões com alguns deles. Eles esperam que o ar da graça caia no colo de cada um e apresente uma ideia ou frase espetacular, que irá fazer com que seus projetos mudem de rumo.

Talvez isso aconteça de vez em quando, mas esperar sem ao menos escrever um trabalho ruim é jogar na roleta russa. Cinco livros que escrevi já foram considerados obras absurdas de ruim perante a “mídia especializada”, o qual não coloco muita fé neles, a única coisa que sabem escrever são reviews em revistas de segunda. Eles jamais sentaram numa cadeira e escreveram 2.000 palavras diariamente para completar um romance, tentando descobrir no caminho se aquilo está certo ou não.


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Essa consistência aprendi logo cedo ainda, tive o prazer em conversar com Jerry Seinfeld logo no meu início de carreira e criar todo o dia material novo era algo que estava na sua rotina. Ele não usou a palavra consistência comigo, mas saquei na hora o segredo do sucesso dele. O mesmo aconteceu quando conheci o escritor Haruki Murakami, que tem uma rotina de escrita fazem 65 anos. Mesmo chegando quase a uma vida centenária o Sr. Murakami possui a mesma rotina diária.

Consistência é uma faca de dois gumes, isso vai te levar a criar os trabalhos mais incríveis que você vai fazer, porém, vai te levar a exaustão ao mesmo tempo, como é difícil. Criar todos os dias, nem que seja uma única frase exige um esforço mental absurdo. Criar em dias ruins é igual nadar nas águas do mar de Weddell, parte do oceano Antártico, pelado. Nem sei se é possível tal façanha, mas deve doer muito de tanto frio. Não sei se ficou claro, mas tentei o meu melhor.

Não sofro de bloqueio criativo porque sempre paro na metade do caminho, mesmo sabendo que tenho muito mais para escrever. Fiz minhas 2.000 palavras? Sento e respiro. Se tenho a história na ponta da língua, isso vai me manter entretido para o dia seguinte. Acredito que existe esse tal bloqueio criativo, mas como eu não tenho muitos afazeres no dia, minha preocupação está com a escrita e sair para jantar com amigos durante a noite umas três vezes por semana. Sou de festa, mas não de beber. Na idade que estou uma ressaca vai me manter destruído por uns quatro dias.

Pois é, depois de ter completado meus 53 anos ainda sinto que tenho muita palavra para desperdiçar em algumas páginas em branco. Talvez um dia eu ganhe algum prêmio Nobel por causa das baboseiras que costumo falar, mas quem se importa, você lembra dos dois últimos vencedores do prêmio? Eu também não. Espero nem ganhar, sinto que após ganhar um prêmio, a carreira de qualquer artista morre junto. Ser nomeado vencedor do prêmio é algo que me assusta, se eu ganhar algum dia tal coisa, que seja na véspera da minha morte, assim tenho certeza que não poderei escrever em hipótese alguma.

Que venha o prêmio nos meus 119 anos! Dizem que a expectativa de vida da minha geração é bizarra de longa, então decidi morrer aos 120 anos. Como se eu tivesse poder de escolha sobre tal situação.

Ainda não completei a meta das 2.000 palavras diárias, estou em 1.992, e não quero quebrar esse ciclo hoje. Só fiz uma pausa para comentar sobre a origem da minha sorte após 25 anos escrevendo, que tem nome e sobrenome: consistência diária. Mesmo assim ainda terá gente que sempre vai duvidar de mim e perguntar da minha sorte.


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ter consistência é o segredo do sucesso
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