Crônicas

Carta ao Leonardo da Vinci

Todos os seres humanos são acessíveis. Não há deuses na forma de homens que não possamos nos aproximar para conversar e questionar. Devemos esquecer de que antes de uma pessoa se tornar uma personalidade, ela ainda é “gente como a gente”. Os medos que te assombram, talvez seja os mesmos medos que assombram pessoas que você idolatra. O homem é feito de rotinas. Você sendo o presidente dos EUA ou um contador, a rotina está presente no dia a dia de todos. A série Cartas é minha aproximação com pessoas que eu gostaria de sentar num café. Ficar horas e horas ouvindo histórias, perguntando e questionando as escolhes que fizeram eles a serem quem são. Hoje eu vos apresento… Leonardo da Vinci!


“Buona notte, maestro da Vinci.

Fazem exatamente 566 anos, desde o seu nascimento até agora, que sua existência foi algo quase divino. Durante esse período seu legado serviu de inspiração para muitas gerações de pessoas. Houve artistas e cientistas, físicos e poetas, reis e rainhas; que olham seus feitos com pura admiração.

Conheço sua figura já faz alguns bons anos, desde que descobri que a Mona Lisa era o supra sumo da arte global. Mas para mim eu associava a sua pessoa com arte, nada mais do que isso. Foi apenas nos meus 20 anos que descobri alguns feitos seus memoráveis para a sociedade, inclusive seu apreço pela engenharia, botânica e anatomia. É de se espantar como alguém buscou interesse em tantas áreas distintas, eu ficava me perguntando o porquê disso. Será que era falta do que fazer? Você estava numa época em que haviam poucas distrações e zero internet.

Conhecia a figura do Leonardo da Vinci bem superficial, ainda julgo que conheço pouco, mas recentemente um homem chamado Walter Isaacson escreveu sua biografia depois de muito estudo e busca incessante por tudo que rodeava você — suas aspirações, características pessoais, roda de amigos e familiares, interesses, tudo de acordo com as milhares de anotações que você deixou espalhadas por aí.

Há pessoas que te “endeusam” por suas habilidades de aprender e replicar esse aprendizado em diversas áreas de seu interesse. Não tiro o seu mérito, você foi e continua sendo incrível, mas, apesar de tudo, você continua sendo um ser humano. Você não fez nada de diferente que alguém possa ter feito ou possa fazer atualmente, se as pessoas pudessem lembrar que você foi alguém de carne e osso, com capacidades limitadas para algumas coisas e ilimitadas para as outras, teríamos milhares de da Vinci espalhados pelo mundo. A meu ver, você ia a fundo em um assunto de forma espetacular, essa era a sua diferença — não era só um homem criativo, como também alguém persistente em suas descobertas e análises.

Em relação a suas pinturas, você sabe que demorou anos para conquistar a áurea de um santíssimo pintor. Mona Lisa não foi criada nos seus 20, 30 anos e sim nos seus 50 anos! A Mona Lisa é o resultado de 50 anos de estudo sobre ótica, reflexo, anatomia, estudo sobre luz e sombra e, principalmente, anos de observação. É esse o seu legado que você deixou para o mundo, a busca incessante pelo conhecimento holístico e entender todo esse conhecimento de forma íntima.

Me pergunto se há polímatas iguais a você e seus pares da época de Florença atualmente. Tenho a impressão que era tudo tão mais fácil para vocês. Você tinha toda paz do mundo para se dedicar em suas artes, que eram valorizadas pela sociedade. Tinha tempo para aprender sobre arquitetura e engenharia militar — hoje quase nem há guerras, por isso se você estivesse vivo, esse seria um campo que talvez a sua pessoa não se arriscaria. Mas temos uma vantagem, que talvez você ficaria maravilhado, de termos tudo a um passo de distância, ou um clique de distância.

Temos algo hoje que se chama internet e podemos navegar por ela de forma rápida e fácil. As pessoas costumam aprender usando a internet, ela é uma ferramenta incrível para o aprendizado, mas poucos a utilizam de forma útil. Se você fosse vivo poderia acontecer duas coisas: (1) você iria ficar deslumbrado e buscaria tudo sobre tudo, conheceria lugares sem ao menos sair de casa, ou (2) ficaria muito confuso sobre tudo e pela quantidade de informações que possuímos.

Seria engraçado sua reação em relação às obras de arte que a civilização mundial tem criado nos últimos 200 anos. Será que você, da Vinci, se simpatizaria com as obras de Picasso, Basquiat, Dali, M.C. Escher e Warhol? Pelo que eu li sobre sua extravagância, acredito que você aceitaria as mudanças que ocorreram nos paradigmas artísticos.

Porém, algo mudaria sua ideia se você pudesse passar uma semana no século XXI. Você ouviria falar sobre as duas grandes guerras mundiais que ocorreram no século XX, e por você não sentir simpatia por guerras e massacres, sua concepção pelo ser humano seria curiosa. Será que você pensaria que a humanidade está indo de mal a pior, ou que estamos no caminho da evolução? Tantas perguntas que viriam passar pela sua mente que você precisaria de alguns dias para processar tanta informação.

Mas tenho boas notícias para você sobre dois assuntos: sexualidade e moda. O primeiro é que você não seria condenado por práticas homossexuais atualmente, salvo algumas nações que abominam a homossexualidade e uns seres humanos perdidos que pensam que ser gay é doença. Geralmente a sociedade está muito mais aberta. So, feel free to be whoever you want to be 🙂.

A segunda pauta é que a moda atualmente está incrível, principalmente em seu país natal, que possui estilistas renomados como Giorgio Armani, Roberto Cavalli, Gianni Versace, entre outros. Muito provável que você seria embaixador de alguma dessas marcas, e quem sabe, teria sua própria coleção assinada. Em alguns relatos que li, você possuía um estilo ímpar.

Por que escrevo para você, da Vinci? É um jeito de me sentir mais próximo de alguém que admiro. Considero você como um amigo de outros séculos. Trocar algumas palavras com você é quebrar um pouco o mito e sentir que, além de ser uma pessoa extremamente habilidosa no que se propunha a fazer, era um ser humanos como todos que habitam a terra.

Só tenho que agradecer pela pessoa que você conseguiu se tornar, e por ter deixado milhares de anotações que compunham o jeito da Vinci de ser. Existem pouquíssimas pessoas que conseguiram a proeza de se tornarem imortais para a humanidade. Dois que são de conhecimento seu foi Jesus Cristo e Dante Alighieri, mas há pessoas incríveis que passaram pelos anos subsequentes que estamparam a história de nossa civilização, que sejam eles físicos, artistas, empresários, revolucionários, pacificadores, escritores. Talvez você não saiba de sua importância, mas se alguém que te escreve 566 anos depois, é possível que você tenha uma breve noção disso.

Vou fazer questão de meus filhos e netos saberem quem foi você, seu legado não vai ser apagado da história da humanidade tão cedo.

Grazie,

Pedro Dalmolin”


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