Sobre a Escrita

Escrever (não) é um ato solitário

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E não deveria ser menos. Para não deixar tão solitário o ato de escrever, vamos colocar um pivô na equação: sua mente. Você conversa com suas ideias na hora de compor um texto. Conversa com os seus personagens na hora de esboçar as suas personalidades. Lapida o ambiente como o arquiteto que está alojado na sua cabeça para criar toda a estrutura da história, um mundo imaginário que precisa de rios, lagos, montanhas e cidades.

Se colocarmos nessa perspectiva não fica tão solitário assim.

Vou além do ato de escrever e mostrar que não precisa ser solitário ao ponto de ficarmos carentes por calor humano.

Um escritor escreve de acordo com suas experiências. Pode ser uma música que ouviu, uma história que leu, um momento em que esteve presente. Os acontecimentos vão se encaixando para colocar uma ideia no papel.

E isso não precisa ser para quem escreve ficção. Toda escrita é moldada sobre experiências nossas. Escrevi um artigo sobre livros de viagens. Não criei nenhuma história com ele, apenas elenquei dezesseis livros que são importantes para mim quando se trata de viagens.

Nesse caso, o trabalho de ler e escrever foi solitário, mas o trabalho de conversar com alguém sobre esses livros se torna muito mais interessante.

Me dei conta esses dias que escrever não é sentar e jogar um monte de besteira no papel (ou no arquivo). Começa no momento em que acordamos e temos uma ideia, quando fazemos uma viagem que nos marca e necessitamos registrar aquele momento de alguma maneira.

Fique atento com o que passa ao redor

Um dos capítulos do meu livro, Entre Atlas e Oceanos, foi baseado em uma experiência que tive na cidade de Petra, na Jordânia. Fui agraciado pelo convite de uma senhora beduína para tomar chá com ela. Eu e as outras duas pessoas que estavam comigo, ficamos honrados pelo convite. Quem diria que um chá se tornaria uma história.

A escrita começou já naquele momento, enquanto socializamos com uma senhora com toda a sabedoria do mundo e pessoas curiosas de várias nações. Se tiramos essa pressão que a escrita só existe na frente do computador, fica mais fácil de encontrar ideias. Ao invés de estar naquele momento na escrita, que dura algumas horas, por que não vivemos a escrita como um estado?

Um estado de absorção e liberação.

Absorvemos as informações ao nosso redor e liberamos ela no computador. Como um nadador que absorve o ar naqueles poucos segundos com metade do rosto para fora e libera gradualmente o ar na água.

Absorver as informações de ambiente, pessoas e ideias ao nosso redor é a parte prazerosa do escritor. Ali vamos estar em contato com momentos divertidos, de risada, vamos chorar e não entender o que se passa no ambiente. Vamos gritar em silêncio querendo que alguém perceba nosso desespero.

Quando se trata de absorver informação, não paramos de o fazer nem quando dormimos. Sonhar e lembrar dele faz parte do trabalho do escritor também.

Trabalho de escrita é trabalho de observação. Detalhes importam quando compomos um texto. O detalhe do ambiente, o detalhe de um email corporativo, o detalhe de uma página de vendas. Os detalhes que dão cor ao texto, que floresce vida no que escrevemos.

Meditação e escrita

Levo a escrita como uma meditação. Não precisamos ficar sentados em posição de lótus de olhos fechados a todo momento. Na meditação “convencional” a ideia é organizar os pensamentos, já que eles transitam sem parar em nossa mente. Ter poder de controlar eles, é tarefa difícil.

Em certo ponto, escrever é mais eficiente que a tradicional meditação. Falo por mim, quando escrevo não penso em nada, apenas na ideia que quero passar. Eu não penso em outra coisa além daquele momento. Se eu tiver um pensamento como “o que vou almoçar hoje”, quebro todo o raciocínio que minha cabeça criou.

O mito do escritor solitário

A imagem que temos de um escritor é aquela pessoa tímida, de poucas palavras, reclusa da sociedade em seus pensamentos. Um ser que fica sentado o dia inteiro lendo, pensando e escrevendo. Eu não me vejo enquadrado nisso. Talvez algumas pessoas são assim, mas não por serem escritoras, mas é a sua essência.

Você conseguiria imaginar Jack Kerouac ou Ernest Hemingway quietos o dia inteiro, às margens da beleza da sociedade. Homens que viveram em época onde as guerras ainda estavam no auge. Homens que viram amigos e parentes morrerem. Hemingway viveu uma vida intensa de guerras, luta, caça, boxe e toda “hombridade” necessária para os padrões masculinos daquela época.

Ambos, Kerouac e Hemingway, nunca passaram a vida escondidos atrás das cortinas. As severas experiências que tiveram foram cruciais em suas escritas. Eles são exemplos de escritores que souberam absorver as informações ao redor e liberar na mais alta maestria.

Um escritor que usa o poder de observação e não faz nada de mirabolante como Hemingway é o Haruki Murakami. Suas histórias são profundas e abordam temas como traição, morte e solidão; mas que não necessariamente foi preciso ir “a campo” conhecer tudo isso. Basta olhar ao seu redor como Murakami.

Com certeza ele nunca foi caçar na Tanzânia em busca de inspiração ou subiu em um ringue para provar sua masculinidade. Ele visualizou as características de uma sociedade japonesa e criou histórias sobre aquela cultura.

Como deixar a escrita menos solitária?

Após escrever um pouco sobre esse sentimento de solidão podemos nos adaptar a ele de modo que escrever não fique tão maçante.

Vá atrás das suas experiências

Não existe sensação mais incrível após ler um livro e pensar “uau! Como o escritor pensou nisso?”. Ninguém escreve sem motivo. Os pensamentos pipocam a todo momento em nossa mente, ideias passam o mais rápido possível e, se tivermos sorte, conseguimos pegar uma ou outra no caminho.

Ir atrás de experiências não vai servir apenas para escrever um livro. É importante na hora da criação da sua pessoa. Os seus gostos, as suas crenças e caráter estão ligados a sua vivência.

Não perca seu tempo atrás do computador. Filmes são legais, mas já pensou em rodar o seu próprio por aí?

Tenha amigos

Amigos é a família que nós escolhemos. Faça bons amigos no decorrer da vida e você nunca será infeliz. Compartilhe suas ideias com eles, absorva o que eles têm para falar. Viagem, comemorem juntos, conheça suas realidades. Estar ao redor de boas pessoas vai elevar a sua escrita e te deixará menos solitário.

Compartilhe os seus textos

Eu não escrevo apenas para mim. Por mais que eu goste dessa ideia, tirar a importância de outras pessoas no processo é injusto. Eu me sentia melhor quando compartilhava as ideias do meu livro do que quando estava escrevendo ele. Uma visão externa vai trazer novas perspectivas.

Seu texto vai ser moldado a partir desses compartilhamentos. Escreva os seus artigos para serem compartilhados. As pessoas estão interessadas no que você tem para falar.

Essa era uma visão limitada que eu permitia que me assombrasse. Quem sou eu para ser lido? Um simples peão que sabe pouco da vida, mas acredita que esse pouco é o suficiente para estar no mundo.

Entre em contato com outros escritores

Mande uma carta (um email nesse caso) para algum escritor que você goste, parabenize-o pelo trabalho, mande sua opinião sobre o seu trabalho, ou até discorde de uma ideia respeitando a obra.

Pessoas que trabalham com a arte têm o ego ferido. Acreditamos que ninguém vai gostar do que fazemos. Temos aquela busca pela aceitação interminável. Da mesma maneira que admiramos outros artistas, queremos ser admirados também. Isso é da natureza do ser humano.

Por que não plantar a semente da admiração enviando mensagem para um escritor? Envie, mas não espere por uma resposta. Trate-o como um igual, seja cordial na carta e mostre admiração, respeito e amizade. Recebeu resposta, curta ela. Você vai perceber que não está sozinho.

Use as mídias sociais

Tive preconceito com mídias sociais, mas nunca deixei de usá-las. É uma excelente espaço para compartilhar seus textos, interagir com o público e fazer novas amizades relacionadas ao seu trabalho.

As primeiras vezes que coloquei a minha cara no Instagram como “escritor” foi um desafio tremendo. Me senti intimidado pela câmera! Mas recebi várias palavras de apoio das pessoas. Começar é difícil, usar as mídias sociais para divulgar e criar o marketing pessoal é um trabalho lento, o resultado não é instantâneo.

Ainda você vai se sentir menos solitário utilizando a parte “social” das mídias sociais mais ativamente.

Abrace a solitude

Solidão machuca, solitude evolui. Abrace os momentos de quietação para pensar e analisar seus textos, sua nova história, os personagens, a ideia central de um artigo. Gosto de usar os dois artifícios: horas de pensar e hora de socializar. Carrego as energias quando fico quieto sozinho por algum tempo, mas, quando excedo, necessito de calor humano para conversar e dar risada.

Em época de pandemia nos adaptamos para não ficar pensando muito e usamos as mídias sociais para conversar e conhecer pessoas novas.

Ame a solidão, mas ame a diversão. Use a solitude para produzir um bom material, analise tudo aquilo que você absorveu em um período e escreva sobre aquilo. Se algo te marcou e merece estar no papel, por que não começar a esboçar ainda hoje um texto? Ou aquela história que você adoraria ler, que não existe nenhum livro falando sobre ela, acredito que muita gente vai se beneficiar dos seus momentos de experiência e solidão.

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2 Replies to “Escrever (não) é um ato solitário”

Lu

Muito bom, obrigada

Por que bons escritores são reconhecidos? - Pedro Dalmolin

[…] com o leitor, originalidade, capacidade de evolução e marketing bem feito. Mas acima de tudo, escrever não é um ato solitário. Ser um escritor é uma jornada de desenvolvimento constante, que leva tempo e muita paixão pela […]