O capitalismo divide opiniões entre quem ama e quem odeia. O que leva essa divisão de opiniões é uma questão pessoal de cada pessoa. Suas vivências e ambiente os fazem discorrer deste sistema econômico, são opiniões fortes com algum interesse próprio por trás dessa ideia. Há quem se beneficie mais do que outros. Fato. Entretanto, não vim apedrejá-lo ou venerá-lo, quero mostrar a minha percepção do que vejo nesse capitalismo fragmentado
Um rápido resumo sobre a Primeira e Revolução Industrial. As empresas eram comandadas por poucos e não existiam leis para o trabalhador. Por mais que haja protestos contra a situação do trabalhador, antes não existia nada! As empresas eram fragmentadas e comandadas por uma minúscula parcela da população.
Em pleno século XXI ainda temos grandes conglomerados, mas temos a oportunidade de nos desvincular deles e criar a nossa pequena companhia.
Esse é o ponto que gostaria de chegar.
O capitalismo se fragmentou
Pessoas saíram dessas megacorporações e sentiram que poderiam fazer algum burburinho por aí, e fizeram.
Não vivemos em plena perfeição, não acredito estar vivo para ver isso acontecer. Há 20, 30 anos era impossível se desvincular de um trabalho visto como seguro e bem remunerado para criar uma marca de sapatos, ou criar uma empresa de turismo com foco em voluntariado pelo mundo, ou construir uma empresa de cosméticos feitos de produtos naturais.
Diariamente descobrimos casos de pessoas que decidiram se aventurar por outros campos. Ficou natural essa movimentação que não é nada distante da nossa realidade. Tenho pessoas próximas de mim, você deve ter também. Antes a barreira de entrada para um novo negócio era impossível social e financeiramente.
A pessoa era julgada se saísse de uma empresa global para abrir uma escola de surfe, hoje aplaudimos essa decisão.
Ainda há companhias que praticam atos nada legais em países pobres, casos de jornadas excessivas de trabalho e até morte em decorrência disso acontecem. Essas grandes indústrias sempre vão existir. Há produtos e serviços que precisam de muito investimento e estrutura para iniciar uma nova operação, quem consegue criar uma companhia de telecomunicação com pouco fundo e networking limitado? Acho difícil.
A sociedade dita as tendências, não empresas
As grandes empresas não vão moldar mais uma sociedade, mas elas vão ser moldadas por nossos comportamentos. Se um comportamento não é aceito pela sociedade, dificilmente você verá uma organização forçando ir contra isso. Nunca o assunto racismo esteve tão em voga quanto nos últimos cinco, dez anos.
Um deslize e as pessoas caem em cima. As mídias sociais ajudam nessa propagação.
A visão de uma sociedade cansada de atitudes baixas trouxe esse assunto para dentro das empresas, assim como assuntos relacionados à importância de nos relacionarmos com o meio ambiente. Temas socioambientais não são passageiros, eles existem e fazem parte da nossa realidade. As grandes empresas conseguem espalhar com mais intensidade e velocidade isso. Elas têm poder e dinheiro para espalhar informação e criar consciência em massa.
E as pequenas empresas são tão importantes quanto. O tamanho e o poder individual não se pode comparar, entretanto, se juntar todas, o barulho é grande. Os pequenos têm agilidade e ideias inovadoras em sua criação, são pessoas que tocam essas operações e não tem “poder de vacilo”, tudo é enxuto. Quase não há margem para erro pela escassa quantidade de capital.
Vamos focar em números fictícios:
- Uma companhia que espalha a ideia sobre a importância de estarmos conscientes da existência e da importância da nossa relação com o meio ambiente tem 100 clientes.
- Outras mil companhias, de diferentes setores, espalham a mesma mensagem e trabalham em cima dessa conscientização e colocam em prática alternativas ambientais. Cada uma com os seus 100 clientes.
- São 100.000 pessoas que levam a sério o assunto. Esse número é uma conta muito, mas muito baixa.
O que quero dizer é: as pequenas empresas têm um poder imensurável em carregar seus ideais e propósitos. Some isso ao trabalho de grandes companhias que trabalham com as mesmas ideias e temos um trabalho de divulgar mensagens e criar consciência em escala global.
Problemas existem, mas as mudanças também
Mas Pedro, isso não resolve os problemas que vemos nas mídias: pobreza, refugiados solicitando asilo, fome e conflitos. Infelizmente a curto prazo as mudanças são pequenas, mas você percebe que estão acontecendo.
Tenho uma teoria estranha sobre o que vivemos e meu otimismo com o futuro. Do ano 0 até o início da primeira revolução industrial foram precisos 1760 anos de história, sem contar os milhares de anos antecedentes a isso. Entre esses 1760 anos aconteceram muitas coisas, mas o progresso era lento. Entre 1760 e 1940, meados da Segunda Guerra Mundial, as mudanças foram maiores. De 1950 até 2020 mudou muito mais rápido.
Tenho a percepção que as mudanças nos últimos 20 anos foram mais intensas que nos últimos 200.
Isso me leva a crer que ainda estamos na fase embrionária do ser humano moderno. Não sei como vamos ser classificados em 200, 500 anos, mas imagino as mudanças. Toda essa movimentação de 2020 vai estar escrita nos livros de história daqui a 500 anos, como a década em que o mundo esteve em alerta vermelho.
O capitalismo como existiu na sua criação não vai ser o mesmo. Não sei qual a nomenclatura para o seu sucessor, se um 2.0 na frente será o suficiente ou algo diferente. Estamos em constante evolução, testamos diversas ideias e modelos econômicos. Alguns funcionam melhor que outros. Alguns mostraram a sua ineficiência, insistir não é pensar no futuro.
Estamos vendo a fragmentação de um sistema poderoso, sua evolução é questão de tempo.
O privilégio de desbravar
Poder fazer parte dessa fragmentação é um privilégio. Não é qualquer pessoa que pode sair do nada e decidir abrir um negócio, ou viajar o mundo em busca de inspiração. O ambiente em que a pessoa está inserida e as oportunidades que estão ao seu redor, inclusive as pessoas que você conhece, influenciam nessa decisão.
Encontrei uma série de vídeos documentais no YouTube da marca de cerveja Corona que chama Free Range Humans. São homens e mulheres do nosso globo que seguiram caminhos opostos ao que estavam acostumados. Eles frearam suas vidas cotidianas tradicionais e seguiram para outro rumo.
Tem uma jornalista que se tornou instrutora de surf, engenheiro que se tornou eco-hoteleiro, paparazzo que se descobriu na escultura submarina e mais cinco histórias como as dessas. Não conheço a história de cada uma dessas pessoas além daqueles seis, oito minutos de vídeo, mas elas tiveram a coragem de parar uma vida que não acreditavam mais e foram em busca de seus propósitos.
Se eles fizeram certo ou errado, isso não importa. Do ponto de vista deles, e do meu, aquela decisão que os tirou de uma vida sem objetivo foi um divisor de águas. Pude conhecer pessoas próximas que fizeram o mesmo.
Essa evolução levanta bandeira para questionamentos como:
- Será que isso é para qualquer pessoa?
- Quem não tem dinheiro para isso e precisa focar na sobrevivência diária?
- Todos precisam se desvincular de uma vida estável?
- Se eu quiser manter meu trabalho atual, com todas as regalias e benefícios?
Nem todos correm na mesma direção
A sociedade não é perfeita e estamos longe de erradicar a pobreza, um fator crucial para mais pessoas avançarem em seus objetivos sem precisar pensar em alimentar a família naquele dia ou poder dormir tranquilo em sua casa sem medo de um ditador os tirarem à força.
Temos organizações que trabalham em prol dessas lacunas que impedem a sociedade e as pessoas de avançarem sem se preocupar com as necessidades básicas. Almas que fazem trabalhos de ouro em favor dessas causas. Isso me lembra quando li o livro O Homem Que Queria Salvar o Mundo, sobre a trajetória de Sérgio Vieira de Mello, funcionário das Nações Unidas que lidava com refugiados e regimes ditatoriais.
Ele dedicou uma vida inteira para trazer o direito de viver de cidadãos do Camboja, Bósnia, Líbano, Iraque e Timor-Leste, para citar algumas de suas missões. Todos são casos que aconteceram entre 1980 e 2000, quando a situação era desastrosa, Sérgio era a pessoa que intermediava esses conflitos.
Há homens e mulheres que se dedicam a causas que precisam de olhos mais críticos. Além da ONU, a Sea of Shepherd defende a vida marinha e a Cruz Vermelha chega onde as pessoas mais precisam e os governos não conseguem lidar com a população na área da saúde.
Precisamos das organizações internacionais de ajuda humanitária se ainda não conseguimos fazer o trabalho internamente. Talvez todas as catástrofes humanitárias após a Segunda Guerra Mundial foram por conta do capitalismo.
O antídoto de uma picada de cobra é o próprio veneno dela
E se o mesmo capitalismo que prejudicou nações devido à ganância e ao ego de poucos é o mesmo capitalismo que vai fazer toda essa mudança?
Como eu havia dito antes, talvez vá existir outro nome para isso. Mas com a fragmentação de todo um sistema que acontece gradualmente, as pessoas perceberam o poder que tem na geração de mudanças. Hoje vemos organizações na área do turismo integrando o turista com os locais e fomentando o comércio entre as partes. Não precisamos ficar trancados em um resort com tudo incluso. Foi o que aconteceu comigo quando morei em Israel.
Eu trabalhava em um hostel que integrava turistas com os refugiados etíopes, eritreus e outros países africanos que vinham para Israel, em tours gastronômicos em seus estabelecimentos e os apresentando como parte vital da sociedade. Havia tours pela Palestina para criar consciência aos turistas sobre o que acontecia do outro lado do muro.
Capitalismo fragmentado
Conhecer outras realidades também é um impulso para fragmentar ainda mais o capitalismo. Todo esse trabalho em Israel apenas aconteceu porque um homem decidiu dar o primeiro passo e ele sabia que suas hospedagens não eram apenas um lugar de descanso e festa, mas de conhecer outras culturas.
O que me aconteceu em Israel nesse hostel, o que a empresa de turismo faz ao levar pessoas como voluntárias pelo mundo, o que a química faz com seu conhecimento e indignação na criação de uma empresa sustentável e como as oito pessoas da série documental criada pela Corona movem a sua vida, apenas aconteceu por conta da fragmentação do capitalismo.
Da criação de possibilidades.
Essas pessoas, juntas, mudaram a vida de milhares de outras.
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