Sobre a Escrita

Escrevo, logo existo

A geração Y, a minha, das pessoas nascidas entre 1982 e 1994 são questionadoras do status quo sobre tudo o que se passa ao nosso redor. As gerações mudam porque a sociedade muda, não é uma questão de qual é a melhor, mas como cada uma se adapta a novas realidades. Questionamos sobre política, música, meio ambiente, religião e a maneira como o mundo age no século XXI.

Os questionamentos não abrangem apenas a sociedade coletiva. Os questionamentos também são internos, nos perguntamos se estamos no caminho certo e se esse caminho realmente existe. Vivemos em um mundo de possibilidades. Podemos escolher entre ser carpinteiro, músico, escritor e designer.

Meia verdade de Descartes

O que é a base para nossa existência? René Descartes já disse uma vez “penso, logo existo”. Levo isso como uma verdade parcial, nossa existência não precisa ficar em volta dos nossos pensamentos. Não acredito que René estava errado, mas quero deixar o meu upgrade nessa frase: escrevo, logo existo.

Não sou pensador ou filósofo, minha cabeça gira em torno de conectar o que era tomado de verdade no passado, trazer para o futuro e, quem sabe, adaptar para outra realidade. Penso, logo existo apareceu em uma época em que os grandes homens do momento eram os pensadores. Suas visões eram compartilhar essas ideias em uma época em que a visibilidade era limitada.

Mesmo Descartes nunca viu o sucesso do livro Discurso sobre o Método, que discorre sobre o tema de nossa existência. O autor foi além do penso, logo existo; ele registrou tudo o que sua imaginação criava o levou a crer.

Escrevo, logo existo

Me peguei pensando nisso outro dia, nessa ideia escondida que essa frase nos mostra. Vamos sair do ano de 1600 e voltar para 2020. Houve muitas mudanças de lá para cá, mas vou focar na essência desse texto: ser visto.

Figuras engenhosas não ficam escondidas em casa compondo suas músicas, escrevendo os seus poemas ou desenhando projetos arquitetônicos. Quem sente o desejo de fazer a sua “arte” não quer deixar aquilo para si. É até egoísmo pensar dessa maneira. Outras pessoas vão se beneficiar do seu trabalho. O globo é lapidado pela diversidade e toda diversidade têm admiradores.

Por isso que é quase impossível criar algo que não exista. O que fazemos é mixar coisas que já existem com outras. Adicionar a nossa individualidade. Quantos livros de histórias sobre viagens que acabaram dando errado no meio do caminho e depois aconteceu uma reviravolta? Várias! Cada relato foi diferente aos olhos de quem o escrevia.

A face da sua autenticidade

Ser autêntico não significa ser revolucionário. Sigo o perfil de uma pintora dinamarquesa, Daniella Jones, que faz uns trabalhos incríveis. O que ela faz outras pessoas fazem, já fizeram e vão continuar a fazer. A diferença está no seu olhar, na sua pincelada, em cada sentimento que ela coloca em cada obra.

Entretanto, ela não faz isso de portas fechadas. Ela mostra para o mundo a sua arte. A Daniella sabe o valor que seu trabalho tem, que seria egoísta com ele mesmo em deixá-lo trancado no armário. As pessoas conhecem o seu trabalho porque ela decidiu mostrar, aquela pintora decidiu carimbar seu legado no mundo com sua arte.

“Pensamentos que se materializam se tornam ouro para a sociedade”

Eu mesmo.

Há n maneiras de viver no mundo. Há quem é devoto de uma religião, há quem está aí por um relacionamento, há quem gosta de acumular riquezas, a escolha de cada um é única. Está errado? Não. Cada ser faz de sua existência de acordo com a sua realidade e desejos.

O que mais faz sentido para mim, que também não está certo, nem errado, é deixar algum legado no mundo. Por isso escolhi a escrita para fazer isso. A frase escrevo, logo existo serve para a minha pessoa porque me sinto à vontade em escrever. Outras pessoas vão trocar o escrevo por desenho, logo existo; canto, logo existo; danço, logo existo.

Sua ação mais a sua existência é a materialização da frase de Descartes penso, logo existo.

O legado lapida o futuro

Existir para deixar o legado no mundo, nem que seja para uma única pessoa se beneficiar disso, me impulsiona a querer criar e criar sempre. Consumo livros de pessoas que já morreram, mas deixaram o seu legado de alguma forma. Alexandre Dumas com suas histórias, Da Vinci com sua personalidade e pinturas, Napoleão com sua sagacidade, cada figura histórica foi um personagem real em sua época.

Ser reconhecido historicamente aconteceu depois que sucumbiram. Na maneira que enxergo o mundo faz sentido isso, sempre estive ligado em obras e ensinamentos daqueles que não caminham mais sobre a terra. O legado que quero deixar para os seres daqui a 200 anos é esse: ser lembrado e ter as minhas ideias ligadas ao propósito de uma pessoa do futuro.

A existência do Hemingway se deu pela escrita: escrevo, logo existo. A existência do Shackleton foi pela navegação: navego, logo existo. Steve Jobs, um caso recente que vai ficar marcado na história poderia ser: inovo, logo existo.

Atualmente temos ferramentas para impulsionar nossa existência. Em 1600 era difícil de ser notado, apenas uma parcela da população tinha essa possibilidade, pessoas letradas e com conhecimento. Isso mudou hoje. O acesso à internet e tecnologia ficou acessível para as pessoas.

Não vou entrar na parcela da população que não tem acesso a essas tecnologias, mas, com base comparativa com o século XV, estamos progredindo.

Se eu tivesse nascido na mesma época que Descartes, dificilmente eu escreveria algo. Eu nem saberia ler para início de conversa. Hoje é diferente. Temos essa oportunidade, que também vem com barreiras, de mostrar o nosso trabalho. A nossa existência contribui para o mundo com nossas habilidades.

Alguém te espera do outro lado da porta

Como eu disse anteriormente, vivemos no meio da diversidade. Para cada habilidade que você desenvolve, um admirador você vai conquistar.

Hoje lapido a minha existência através da escrita. Dia após dia deixo uma pequena pegada no mundo. O que eu faço, muita gente faz. Como realizo isso, só vai existir eu.

Abuse da sua singularidade. Jogue no mundo o que você sabe, provavelmente alguém está esperando por isso.

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