Sobre a Escrita

Como foi escrever o meu primeiro livro

Uma vez ouvi que há três coisas que uma pessoa deve fazer na vida: escrever um livro, plantar uma árvore e criar um filho. Fazer o filho é fácil, criar é um mundo à parte. Tudo nessa sequência não faz o menor sentido, mas eu tive a oportunidade de escrever um livro nesse ano de pandemia.

O processo não começou quando sentei na frente do PC e comecei a digitar sem parar. Esse processo começou em 2018, quando iniciei o meu blog e escrevi alguns artigos sobre viagem, depois escrevi contos e crônicas, escrevia o que vinha na minha cabeça. Se aventurar em um livro era utopia, o mais perto que cheguei a escrever de um livro foi criar o primeiro capítulo de um romance que comecei quando morei em Praga.

Não sai do primeiro capítulo.

Obsessão pela história

Mas o que mudou do Pedro daquela época para o Pedro que finalizou o livro e o recebeu em setembro deste ano? Maturidade e autoconhecimento.

Estou longe de ser um Best-Seller, mas estou mais perto de encontrar a minha essência. Escrever é algo mágico para mim, mas é muito difícil aceitar a decisão de “viver da escrita”. Quem escreve sabe como nós, escritores em formação, não somos levados a sério até mostrar resultado.

Dizer que vai escrever um livro é simples. Escrever é outra história. Publicá-lo então, parece que é um mundo à parte.

Deve ser um sonho poder viver da escrita e ter um agente cuidando de toda burocracia que envolve esse mundo. Só de pensar em focar no que realmente importa para o escritor e deixar as outras pendências nas mãos de outra pessoa dá um alívio, mas a realidade da maioria é outra.

Eu só consegui escrever meu livro porque estava obcecado com ele!

Não tinha mais nada que eu queria fazer. Eu não via mais nada na minha frente além de ter o livro pronto. Eu sentei no dia 12 de maio e comecei a escrever.

A partir desse dia, até o dia 30 de junho, eu não parei de escrever até ver o meu livro pronto. Durante um mês e meio eu “joguei” 78.702 palavras! Estipulei escrever uma média de 2.000 palavras por dia, mas houve dias em que passei a escrever 3.500 palavras. Também teve dias que não consegui escrever. Quando eu estava com a metade do livro escrito, fiquei uma semana sem escrever.

Os altos e baixos do processo de criação

Eu me peguei pensando “qual a razão desse esforço?”, “por que estou escrevendo um livro?”, “e se estiver uma m****?”. Foi uma semana punk quando estive na metade do livro. Não consegui escrever uma linha sequer, isso que eu tinha feito todos os esboços dos contos escritos. Eu sabia qual seria a história dos doze contos.

Para piorar, eu parei na metade do sétimo conto. Para voltar a escrever, de onde tinha parado, foi um parto. Mas eu não podia parar naquela hora. Eu havia prometido para mim que escreveria um livro sobre viagens e seus momentos, um mix de memórias e ficção. Algo que Ernest Hemingway sentaria para ler e o faria pensar o que era verdade e o que era ficção.

No dia 30 de junho terminei de escrever o livro inteiro. Tudo o que eu queria tirar da minha cabeça estava naquelas quase 80.000 palavras. Agora era a hora de reler tudo o que tinha feito.

Fiquei uma semana de molho e absorvendo aquela conquista. Eu não tinha o livro em mãos, estava longe de tê-lo, mas para mim ele estava escrito.

Reescrever é tão importante quanto escrever um livro

Passou uma semana e sentei para ler, resultado: odiei o que tinha escrito. Meu deus! Quanta coisa errada e sem sentido, tava uma lambança de erros ortográficos e de digitação e partes sem nexo.

Comecei a me perguntar “será que perdi um mês da minha vida?”.

O primeiro conto estava horrível, mas eu comecei a “arrancar” tudo o que me incomodava nele. Eu gostei um pouco mais dele depois da primeira mudança. Os quatro seguintes também tive a mesma sensação, mas da metade para frente eu comecei a gostar deles, mesmo sem a revisão.

Senti que depois de ter escrito 40.000 palavras, um pouco mais que a metade, comecei a escrever com mais sentido o livro. Antes era apenas um projeto, quando cheguei na metade vi que a fase “projeto” havia passado e pensava mais na hora de escrever.

Revisei e tirei tudo o que me incomodava e deixei o segundo rascunho legível. Mudei bastante coisa, de títulos a desfecho. Foi um trabalho tão complicado quanto escrever. Para deixar da maneira que eu queria, fiz isso mais duas vezes. A última utilizei dois sites para pegar erros ortográficos.

Durante um mês eu revisei o texto antes de decidir enviar para um revisor profissional.

Não me sentia seguro em publicá-lo daquela maneira, pesquisei revisores e conversei com eles sobre o método que trabalhavam e seus valores. Gostei do Paulo, um revisor que faz um trabalho diferente. Ele revisa e vai conversando com o autor ao mesmo tempo, ele me deu várias dicas e implementei grande parte no meu livro.

O livro já tinha nome, Entre Atlas e Oceanos.

Entre Atlas e Oceanos

Durante um mês o Paulo fez a revisão e me enviava os capítulos para conversarmos e para eu aceitar as partes revisadas.

O livro estava escrito, se eu quisesse publicá-lo, precisava ir mais a fundo nesse mundo.

O mundo editorial

Entre Atlas e Oceanos estava pronto, houve um período em que fiquei ocioso por conta da revisão do Paulo. Nesse período criei a capa do livro e aprendi a diagramar no Indesign, li artigos sobre os melhores jeitos para publicar um livro. Nesse um mês eu aprendi:

  • Criar capa
  • Diagramar um livro
  • Registro ISBN
  • Precificá-lo
  • Negociar com fornecedores (gráficas)
  • Diagramar para ebook
  • Como a Amazon funciona para autores independentes
  • Como eu deveria publicar o meu livro: por editora, pela plataforma Clube de Autores ou por conta.

São todos detalhes importantes para a criação de um livro. Me orgulho em dizer que não escrevi um livro, mas eu o criei.

Tipo de publicação

Não foi muito difícil descobrir como eu queria publicar o livro. Há bastante material e videos no Youtube sobre os prós e contras para cada tipo de publicação. Vou citar essas maneiras e minhas percepções sobre.

Editora tradicional

Ter o meu livro em uma editora grande seria um sonho, eu peguei os livros que mais gosto na minha estante e busquei as editoras. Companhia das Letras, Arqueiro, Intrínseca e Bertrand Brasil foram algumas que listei. Na lista havia outras menores também.

Na minha cabeça passou o seguinte: quero conhecer cada detalhe da produção e criação no meu primeiro livro, como divulgá-lo e como precificar. Em uma editora tradicional tudo isso fugiria do meu controle.

A maior vantagem de uma editora é o maior alcance que o livro pode ter. Imagine seu livro sendo vendido na Livraria Cultura? Que delicia que deve ser vê-lo na estante. Entretanto, eu sou um autor de um livro ainda, ninguém me conhece.

O repasse vendido para o autor é de 5 a 10% por exemplar, um valor muito baixo. A editora tem todos os custos de produção e custos administrativos, é inviável para ela pagar altas taxas de royalties.

Acredito que faz sentido trabalhar com uma editora, mas optei por fazer esse caminho em outro momento.

Clube de Autores

Outra opção incrível é a plataforma Clube de Autores, nele você envia o livro pronto já diagramado e com a capa e publica sem rodeios. Eles ainda têm a própria plataforma de vendas e disponibilizam os livros em diversos sites como a Amazon e o Submarino.

É muito fácil de usar e tem muitos artigos sobre processo de escrita e publicação. A vantagem está na distribuição e entrega dos livros.

Mas eu escolhi não publicar pelo Clube de Autores por dois motivos: custo do livro e layout.

O meu livro custaria R$ 40,98 para ser publicado, esse valor sem margem de lucro.

O preço médio dos livros no mercado é de R$ 42. Livro é um produto, como eu lucraria em cima das minhas vendas se um exemplar custaria R$ 40,98? Se eu quisesse ter margem de lucro minimamente decente meu livro teria que ser vendido por mais de 50 reais!

E o que não gostei do layout é uma tarja preta que a empresa coloca na contra capa.

A plataforma tem seus custos internos como escritório e funcionários para pagar todo mês, fora os fornecedores. Não achei certo o meu livro custar tanto e minha margem ser baixa. Se eu colocar o livro por 60, 70 reais minha margem vai ser alta, mas duvido que vá vender.

Publicação independente

Tudo é mais difícil nesse processo. Você é encarregado por cotar preço de impressão em gráfica, descobrir qual material que a gráfica usa. Cada detalhe fica por conta do autor. Há muitas gráficas que não imprimem baixa tiragem, mas encontrei uma que me ajudou muito nesse quesito. A tiragem dessa gráfica é, no mínimo, 10 unidades! Fiquei maravilhado com isso. E os custos ficariam 50% mais barato que na plataforma Clube de Autores.

Entretanto, nada é perfeito. Eu precisaria…

  • Enviar e precificar o frete por conta
  • Criar conta na Amazon KDP
  • Buscar os livros na gráfica
  • Estocar em casa
  • Divulgar o livro no meu blog
  • Criar uma conta no PagSeguro para facilitar os pagamentos
  • Fiz um MEI (Micro Empreendedor Individual)
  • Criei conta bancária PJ no banco Inter

Publicar um livro de maneira independente é uma escola. Eu decidi fazer assim para aprender sobre os processos de editoração. É mais trabalhoso, exige disciplina para manter a cabeça no lugar e não esquecer os detalhes. Ainda trabalho sozinho e tudo fica por minha conta.

Eu tenho um retorno maior pelo meu investimento de impressão dos livros, mas preciso ir atrás de leitores a cada dia.

O livro é um produto que precisa ser vendido. Nenhuma pessoa que gostaria de levar esse ofício a sério vai fazer um livro a preço de custo. Olhe os números de grandes escritores como Paulo Coelho, JK Rowling e Stephen King. Eles ganham muito dinheiro com seus livros e não vejo problema nisso.

Artistas devem ser pagos pelo seu trabalho e dessa maneira vão continuar a criar cada vez mais. Dinheiro importa, sim!

Hoje sou autor independente, amanhã não sabemos. Só tenho que agradecer a essa escola pelo aprendizado.

O papel da Amazon na publicação

Eu não consegui vender meu livro físico na Amazon, a empresa compra os exemplares das editoras e deixam no seu CDC (Centro de Distribuição Compartilhada). Como eu não faço parte de nenhuma editora, não consegui entrar na empresa. Eles possuem a própria plataforma de publicação digital e física. A publicação física não faz sentido no momento porque todos os livros são produzidos nos EUA e importados para o Brasil.

A variação e alta no dólar não faz sentido agora.

Mas resolvi publicar o livro digital pela Amazon pela facilidade em usar a plataforma KDP (Kindle Direct Publishing). Qualquer pessoa consegue enviar o livro para a plataforma e em menos de 72 horas a obra está publicada.

Foi a parte mais fácil de todo o processo e ainda fico com até 70% das vendas. Vai depender de qual opção você selecionar: se tornar exclusivo da Amazon ou trabalhar com outras plataformas.

Registro no ISBN

Há pessoas que cobram para te ajudar a registrar o livro. O registro serve como se fosse um “RG” do livro, com ele facilita a busca pelas livrarias e catalogação. Para uma publicação independente não há necessidade, mas eu acredito ser importante na criação do livro. Torna-o mais profissional.

Não há segredo em registrar o livro, no site da Câmara Brasileira do Livro você faz rápido, espere para registrar quando você tiver as informações de número de páginas e qual categoria ele se encaixa. Por isso busque livros do mesmo segmento e use eles como base para a sua pesquisa.

Outra coisa importante é a ficha catalográfica. Abra um livro e você vai encontrar na segunda ou quarta página. No mesmo site que faz a ISBN você faz o registro.

Os custos são:

  • Registro ISBN: R$ 22,00
  • Arquivo de código de barras: R$ 36,00
  • Ficha catalográfica: R$ 60,00 (na promoção!)

Como é diagramar um livro?

Outro processo interessante foi fazer a própria diagramação. Eu não sou designer, mas sei usar os softwares da Adobe. O Indesign foi onde fiz todo o processo de montagem do livro. Depois de alguns tutorias no Youtube, consegui diagramar meu livro perfeitamente. Eu agradeço as boas almas que fazem tutoriais no Youtube sobre diagramação e criação de livro.

Eu ficava dia e noite medindo as margens dos livros com uma régua. Nesse ponto eu sabia que o livro teria 16 x 24 cm e peguei quase todos os meus livros nessas medidas. Fui com uma régua mesmo e descobria o que queria para o meu livro. No final consegui o resultado desejado. Escolhi a fonte e o tamanho, ajeitei o espaçamento entre linhas para deixar o livro mais legível.

Criei um mapa para deixar no início do livro, vi como funcionava a ordens das páginas dos livros e deixei os agradecimentos para o final. Cada detalhe importa! Todos os capítulos começam nas páginas ímpares e não possuem número da página nelas. 

Diagramar um livro é difícil, mas foi essencial na construção de Entre Atlas e Oceanos. Eu deixei o livro do meu jeito.

A capa

Não contratei nenhum profissional para fazer a capa, utilizei o Canva e o Illustrator para criar. Aprendi como montar a estrutura da capa e usar sangria para não cortar na hora da impressão. Todas as imagens e arquivos tinham que estar em CMYK, método de cores utilizado para impressão.

Centralizei as mídias sociais, adicionei o código de barras do ISBN e padronizei as cores.

Quero deixar claro que um designer profissional faria um trabalho melhor que o meu. Eu apenas fiz dessa vez porque queria fazer parte de todo o processo; Para o meu próximo livro vou contratar tanto um diagramador quanto um designer gráfico para fazer a capa. O trabalho é gigante e meu foco está na escrita, não na criação de capa.

Livro pronto, e aí?

O livro foi revisado, lido e diagramado, e agora?

Mandei para a gráfica e esperei por duas semanas os livros ficarem prontos. Encomendei 13 unidades para realizar a pré-venda e enviar para algumas pessoas.

A pré-venda é importante para o lançamento de um livro para estimar quantos exemplares devem ser pedidos. Eu deixei na pré-venda até o dia 22 de outubro, durante um mês.

Quem comprar na pré-venda estará contribuindo para que esse autor possa continuar escrevendo cada vez mais e o exemplar está com desconto e será assinado por mim. Minha assinatura pode não valer muito agora, mas quem acreditar no meu trabalho vai se beneficiar a longo prazo.

Lembre-se das editoras que negaram os livros do Harry Potter, quem acreditou na JK Rowling foi longe, muito longe…

Quando chegaram os livros tudo estava pronto. Apenas tirei boas fotos e publiquei nas redes sociais, foi um sucesso entre os conhecidos. Inclusive vendi vários naquele dia e ainda vejo mensagem do PagSeguro no meu email sobre pedidos realizados.

Foi um período de quatro meses e nove dias entre a batida da primeira tecla até a chegada dos livros. Se estou orgulhoso e contente dessa conquista? Claro que sim! Vou escrever mais livros no futuro? Vou! Mas agora meu foco é na distribuição e promoção desse.

Vou continuar atuando como escritor freelancer para ajudar as empresas com a escrita e continuar com o meu blog pessoal para divulgar o meu trabalho.

O que aprendi sobre nesse processo de escrever um livro? 

  • Seja obcecado pela sua ideia!
  • Se afaste das pessoas que não acreditam em você, essa é a pior sensação do mundo e vai te fazer questionar se continua ou não com o livro. Esteja com pessoas que apoie sua jornada
  • Junte-se a quem visualiza o seu sucesso, vou repetir de novo!
  • O caminho é longo e doloroso, não espere escrever uma obra-prima de primeira, eu não acredito que meu livro seja excepcional, mas eu gosto dele
  • Descanse
  • Leia bastante
  • Descubra o melhor horário para escrever. Tente escrever de manhã, de tarde e de noite
  • Você vai querer desistir, eu quis
  • Você não vai ver sentido em algum momento dessa jornada
  • Você vai se sentir sozinho
  • Ninguém vai fazer por você
  • Você vai conseguir terminar no final das contas
  • Seu livro vai ser incrível
  • Aprenda sobre o processo
  • O mundo é nosso!

Hoje tenho um livro pronto e alguns leitores, meu objetivo quando iniciei era escrever um livro. Consegui! Agora meu objetivo é colocá-lo na casa das pessoas e levá-lo para o mundo. Por se tratar de um livro de viagens, não faz sentido em mantê-lo local, mas sim global.

Uma coisa que aprendi com essa pandemia foi ter paciência e me mover um pouco a cada dia. Para as pirâmides no Egito serem erguidas precisou do primeiro bloco de pedra.

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One Reply to “Como foi escrever o meu primeiro livro”

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